24 de abril de 2009

Saudações

Peço licença! Afinal hoje é a primeira vez que estou postando nesse blog. Vejam como as coisas são. Esse texto eu já postei no blog do centro acadêmico da Agronomia da UFSC (faculdade que curso), por indicação de uma amiga de Chapecó. Essa crônica representa bem o meu sentimento depois de uma reunião com os diretores dos departamentos do centro de ensino da UFSC na qual estudo. Não conheço muito o autor, mas me parece que numa certa altura da vida ele ficou bem mais ligado do que era antes. hehehe. Então aqui vai o texto, que é relativamente conhecido, do Rubem Alves.
Ah... Dá-lhe Pink Floyd na sequência!

Sobre Vacas e Moedores

Um amigo tinha um sítio. Colocou nele uma vaca. A vaca lhe dava uma enorme despesa. Teve de construir um estábulo, além de comprar uma picadeira de cana para a ração. As pessoas ajuizadas da sua família tentaram trazê-lo de volta à razão. “Com as despesas todas que a vaca lhe dá, o leite dela é o mais caro da cidade! Seria mais prático comprar o leite nos saquinhos plásticos...”. Mas ele me confessava: “Eles não entendem... Eu não tenho a vaca por causa do leite. Eu tenho a vaca porque gosto de ficar olhando para ela, aqueles olhos tão mansos, aquele ar tão plácido, tão diferente das pessoas com quem lido... Tenho a vaca porque ela me faz ficar tranqüilo...” Meu amigo sabia aquilo que seus práticos familiares não sabiam: que uma vaca além de ser um objeto com vantagens práticas e econômicas, é também um objeto onírico. As vacas nos fazem sonhar... Havia, na casa do meu avô, um quadro bucólico. Era um campo com grandes paineiras floridas ao fundo e algumas vacas que mansamente pastavam. Eu, menino, gostava de ficar ali, olhando o quadro. E me imaginava assentado à sombra das paineiras, gozando da felicidade de ter como companhia apenas vacas que nada pediam de mim. Não existe nelas nenhuma ética, nenhum comando. Nada querem fazer, além de comer o capim verde. Já os cavalos provocam sonhos diferentes: criaturas selvagens, cheias de uma beleza energética, relincham num desafio para as corridas desabaladas e o vigoroso bater das patas no chão. O relinchar de um cavalo é um grito de guerra. Mas o mugido de uma vaca, apito rouco de um navio vagaroso, soa como uma oração... “de profundis...” Acho que foi por isso, por essa sabedoria filosófica, que as vacas nos fazem sonhar, que os hindus as elegeram como seres sagrados. As vacas parecem estar em paz com a vida – muito embora o seu destino possa ser trágico. Trágico, não por causa delas, mas por causa dos homens, que pouco se comovem com seus olhos mansos. Cecília Meireles colocou num verso esta condição bovina, como paradigma da condição humana: “Sede assim – qualquer coisa serena, isenta, fiel, igual ao boi que vai com inocência para a morte.” Pois bois e vacas, esvaziadas de suas belas e inúteis funções oníricas, pelos homens práticos, estão destinados ao corte. Passei pelo açougue, lugar onde se realiza o destino das vacas. Um açougue é o lugar onde a mansidão bovina é transformada em utilidade comercial. Para serem úteis elas têm de morrer. Sobre o balcão, um moderníssimo moedor de carne. O açougueiro, afiando sem parar a faca, corta as carnes que, um dia, pastaram à sombra das paineiras. Por um buraco, à direita, entram os pedaços de carne. Ligadas à máquina, giram as engrenagens invisíveis que trituram a carne. Operação necessária para que a vaca se torne útil ao homem. Em sua placidez filosófica, a vaca não é útil à ninguém, apenas a ela mesma. É preciso que a máquina a transforme em outra coisa para ser útil ao homem. Na outra extremidade do moedor elétrico há um disco cheio de orifícios. Por ele esguicha a carne moída, que vai caindo em uma bandeja. Terminada a operação, o açougueiro toma um punhado de carne e o coloca sobre um pedaço de plástico, e, por uma manipulação destra, enrola-a sob a forma de rolo, como se fosse um salame. E assim vai repetindo. Sobre o balcão os rolos vão se acumulando, todos iguais, um ao lado do outro. Tentei conversar com os rolos de carne moída. Perguntei-lhes se sentiam saudades dos pastos, dos riachos, das paineiras floridas?... Mas parece que haviam se esquecido de tudo. “Pastos, riachos, paineiras – o que é isso? Parece que a máquina de moer carne tem o poder de produzir amnésia. Perguntei-lhes então sobre os seus sonhos. E me responderam: hamburgers, Mc Donald’s, Bob’s, churrascos... Só sabiam falar da sua utilidade social. E até falavam em inglês... Meditei sobre o destino das vacas e fiquei poeta. A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isto que tem o nome de metáfora. Olhei para a carne cortada, o moedor, os rolinhos e vi outra coisa: escolas! Assim são as escolas... As crianças são seres oníricos, seus pensamentos têm asas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar. Como as vacas de olhos mansos são belas, mais inúteis. E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. Como as vacas, elas têm de passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, as redes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas são transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornarem socialmente úteis. E o ritual dos rolos em plástico? Formatura. Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesma forma. Hoje, quando escrevo, os jovens estão indo para os vestibulares. O moedor foi ligado. Dentro de alguns anos estarão formados. Serão profissionais. E o que é um profissional se não um corpo que sonhava e que foi transformado em ferramenta? As ferramentas são úteis. Necessárias. Mas - que pena – não sabem sonhar...

23 de abril de 2009

Hyundai

Hoje quando saia de casa para comprar erva-mate, ao me dirigir ao mercadinho perto de casa, me deparei com um desses carrões asiáticos que não sei o nome, estacionado perto da esquina. A unica coisa que sei era a marca, Hyundai. E olha que procurei no Google pra ver como se escreve :)
O que me chamou a atenção, no entanto, não foi o carro. Foi o adesivo estampado no vidro traseiro com os dizeres "Democratas a Força das novas ideias". Num primeiro momento pensei,"Sim, mas com os velhos políticos de sempre". Reconsiderei ao lembrar que os Democratas tem tido uma certa renovação. Pois de uns anos pra cá, apareceu o Rodrigo Maia, o ACM Neto, em suma, políticos jovens. Além deles, ainda contam com integrantes nem tão jovens assim, mas que são novos na política, tipo o Paulo Borges. Então políticos velhos não é o caso.
Refleti mais um pouco, enquanto caminhava até o mercadinho. Afinal, dos grandes partidos do Brasil, os Democratas (Ex UDN, ex Arena, ex PDS, ex PFL) continuam estando mais a direita que os demais. Então, se eles continuam sendo o partido mais radical na defesa do estado mínimo e da mão-invisivel, qual seria a força das novas ideias? quais seriam as novas ideias? Apenas me ocorreu uma única resposta: As de marketing, claro.

18 de abril de 2009

Old Marx!

A infraestrutura determina a superestrutura. Lição clássica do marxismo. A ideia é se realizar pessoalmente através do consumo, excessivo e individualista, nos templos do consumo. Onde? Nos xópins e hipermercadões da vida.
Saramago tem um leitura importante para a crise, outra leitura para ser exato. Acompanhe: http://caderno.josesaramago.org/2009/04/07/outra-leitura-para-a-crise/

15 de abril de 2009

Com uma ajudinha dos meus amigos...

14 de abril de 2009. Ontem fiz 26 anos. Curioso é postar a essa hora, quando já é 15 de Abril. De qualquer jeito, nunca fui muito de divulgar a data do meu aniversário. Alías, hoje pela manhã (de terça) não avisei ninguem. Mas resolvi mudar. Avisei meus amigos. E eles vieram.

Mudei de ideia ao me lembrar de uma colega de faculdade que sempre alertava, "ah, meu aniversário tá perto, é dia tal..." Na época achava um tanto presunçoso declarar o próprio aniversário. Por outro lado, admirava a minha colega sem saber bem o porquê. Hoje me dei conta. Ninguém é obrigado a saber a data do meu aniversário. Puro egocentrismo. Presunçoso era eu. Espero não ser mais quanto a isso. Ainda mais que não tenho Orkut. De hoje em diante tomo a resolução de avisar as pessoas que gosto. Amigos são pra isso.

Enquanto isso, o mundo gira. Parte da esquerda declara: o neoliberalismo acabou... Será? A Coreia do norte decide retomar o programa nuclear, o governador de SC se indaga como uma lei federal pode valer para o Brasil inteiro?

Bom, estou escutando Pink Floyd, enquanto escrevo nesta madrugada e penso nessas coisas. Se bem, que resolvi escutar outra música...

Até a pouco estava na rua com meus amigos. Falando de tudo. Bebendo enquanto ainda tinha dinheiro. As confidências e os conselhos giravam em torno das pessoas a volta da mesa e... o mundo gira. E eu o que faço? Bem, eu vou dormir.

A propósito, a música para qual mudei é esta:

12 de abril de 2009

10 de abril de 2009

Diga-me com quem anda e direi quem és

Caríssimos!
Como sabem, primata que se preze, anda e sobe em árvore em grupo. POr isso, este blog agora conta com colaboradores.
Saudações aos novos primatas!

7 de abril de 2009

A Conta

-Nunca tinha visto um igual, precisava ver, tinha tudo que precisava. Além de ser muito bonito...

-Tá, e daí? - Corta o policial, estressado depois de um plantão que terminaria daqui algumas horas.

-Desculpe, mas é que pra mim ele significava muito. Sabe como é? Era a primeira vez que tinha um daqueles. Me custou tanto. Foi tão caro. Eu tinha trabalhado duro, feito hora extra na loja, economizado. Este não era como os outros...

-Olha, tem gente na fila - Mostrando com os olhos as pessoas atrás de Nestor, completando: -Esse pessoal costuma ser impaciente.

Nestor não dá bola e segue com o relato:

-Ah! Mas tu tinha que ver, tinha câmera, máquina fotográfica, tocava mp3, toques polifônicos, tudo que eu precisava. Quando vi na vitrine da loja, não sosseguei até comprá-lo...

O policial interrompe outra vez, já irritado:

-Olha, eu não tenho a noite inteira, o senhor vai dar a queixa ou não?

-Sim, darei. Me perdoa de novo. Foi assim, estava na parada do ônibus, para voltar pra casa, após o trabalho. Então... - Neste momento Nestor se debruça sobre o balcão, coloca as mão na testa e as leva até o cabelo, suspira, e prosegue:

-Minha mãe me liga, avisando que os meus amigos já estavam me esperando. Foi então que dois sujeitos que passavam pelo ponto, viram o meu celular. Novinho em folha. Ah! Tanto esforço, pra isso? E um deles - A voz de Nestor começa a ficar embargada - me dá um tapa na cabeça, enquanto o outra toma o celular, e ainda me ameaçam "Se avisar a polícia, morre". Pode uma coisa dessa? Pode?

O policial cansado, olha Nestor e com comiseração diz:

-Não se preocupa, a gente vai fazer o possível. O celular era de conta?

-Ah, não! Esse era o seu único defeito, era de cartão. Mas no fim, dei sorte em ter comprado um celular de cartão, né? Seria pior se fosse de conta, né? Imagina a conta que teria de pagar para a operadora?

-Pois é, mas no fim, a pior conta acaba sendo aquela que a sociedade vem cobrar - O policial termina o assunto, vira pro lado e grita:

-O próximo, por favor!

6 de abril de 2009

Terça Insana



Descobri este video no youtube graças a Barbara Monego, a quem agradeço. Vale umas boas risadas. PAra quem gostar, ainda sugiro "Irmã Selma", "Eu fico Puto" e " A mal amada". Todos do terça insana.

4 de abril de 2009

Ultima Hora

Existe um acervo digitalizado do jornal Ultima Hora na internet.
Faz parte do arquivo público do estado de São Paulo. Eu pelo menos não conhecia.
Pra quem tiver curiosidade, clique aqui.

3 de abril de 2009

He's the man!!"

Vale a pena ver a entrevista recente do Presidente Lula à BBC, segue o link:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/04/090403_lulaentrevista.shtml

He´s the man!! A propósito, será que esta frase estará nas frases da semana em Veja, ou no ZH dominical?

O mais engraçado ficou por conta do ZH desta sexta-feira. Consultou uma série de especialistas sobre o significado do elogio de OBama. Ora, por que será que ZH não concorda com Obama?

Pra começar o fim de semana... Garotas Suecas!




O som desses caras é muito bom!

1 de abril de 2009

O cara é foda.

Fonte da imagem: http://www.overmundo.com.br/banco/da-faisca-da-pedra-lascada-ao-brilho-do-neon


Em meados dos anos 1990, assistindo um jogo do Inter contra o Palmeiras, tive que dar o braço a torcer para um dos gols do time do Edmundo. O cara fez um golaço, digno de placa. Ele recebeu a bola na área, colocou pelo meio das pernas do zagueiro colorado, depois pelo meio das pernas do goleiro e parou com a bola em cima da linha do gol. Depois rolou a bola calmamente para as redes. Mesmo colorado, não pensei em outra coisa a não ser "o cara é foda".

Mas no futebol não foi só o Edmundo. Maradona e Romário para mim também são dignos da expressão em questão, tanto pelas inúmeras jogadas como pelas declarações fora das quatro linhas.

Na música, quando soube das histórias do Keith Moon - como aquela com as prostitutas num luxoso restaurante de Londres - e assisti alguns vídeos dele, detonando na batera do The Who, só pude pensar o óbvio,"o cara é foda". O mesmo, por outros motivos, pensei do Chico Buarque. Um dia desses, quando meu pai escutava um disco dele, é que me caiu a ficha. Foi quando me dei conta que Cálice, não era bem uma espécie de copo chique. Isso sem contar as letras que dizem uma coisa de cima para baixo, e outra no sentido oposto. Não pude chegar a outra conclusão, o cara é foda.

Já na política, encontro exemplos que me mostram que a referida expressão pode tanto carregar um sentido de admiração, como de desaprovação. Neste caso, no aspecto negativo, não pude deixar de pensá-lo, quando vi, no documentário "Muito Além de Cidadão Kane", o sorriso maroto do ACM, após afirmar que não tinha todas as concessões de TV na Bahia, apenas a melhor delas. Por outro lado, quando vi o direito de resposta do Brizola no Jornal Nacional, sendo lido pelo Cid Moreira ao vivo, só pude pensar uma coisa. Adivinha o que?

Então acho que é isso. Quando alguém, na hora certa e no lugar certo, ou mesmo ainda na hora errada e no lugar errado, consegue realizar ou falar o impensável, mas o estritamente necessário para determinada situação, não há nada melhor que expresse o surpreendente que... "o cara é foda".